Brevemente

Galo

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Por Rosário Salema de Carvalho, Ana Almeida, Inês Leitão e Patrícia Nóbrega

 

Uma escultura cuja dimensão equivale a um prédio de 3 andares, integralmente revestida por 17.000 azulejos de diversas cores, formando várias composições, sublinhadas e destacadas por 15.000 LEDs. Uma descrição formal e possível mas que esconde a multiplicidade de leituras propiciadas por Pop Galo, a obra de Joana Vasconcelos que propõe uma visão crítica e actualizada de uma peça que faz parte do imaginário nacional - o galo de Barcelos -, revestida por azulejo, outro símbolo português.

Com raízes medievais associadas aos Caminhos de Santiago, a lenda do galo de Barcelos poderá ajudar a explicar a fortuna que esta figuração conheceu no contexto da tradição oleira de Barcelos, que mais tarde o Estado Novo "(re)construiu" como um símbolo identitário de Portugal. Apresentado em diversas exibições nacionais e internacionais, o galo de Barcelos tornou-se um ícone da nacionalidade após a Exposição do Mundo Português, em 1940, sobrevindo desde então como uma peça sucessivamente recriada por diferentes gerações de artistas (Fernandes 2014, 45; Fernandes 2016). Entre as tradições conhecidas regista-se ainda a sua ligação às bodas camponesas e aos ritos matrimoniais (Alves 2007, 118).

O Galo de Joana Vasconcelos, na sua versão Pop, apropria-se, criticamente e sob diversos aspectos, de um passado e de uma ideia de nação que actualiza e recria, recorrendo por sua vez a materiais tradicionais, como o azulejo, também ele metamorfoseado na forma e na ligação que estabelece com a iluminação artificial formada por LEDs que, citando o desenho puntiforme tradicional dos galos de Barcelos, destacam a sua vertente tecnológica.

Neste ensaio, que privilegia uma abordagem sob o ponto de vista do azulejo, Pop Galo assume-se como uma escultura que abre novas perspectivas no uso e exploração de uma das artes que mais caracteriza o imaginário colectivo e a herança patrimonial portuguesa – o azulejo.

 

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